A produção cultural em Currais Novos carece de consistência, isso ocorre, principalmente, pela falta de sincronia do poder público com o movimento civil. O trabalho artístico produzido pela comunidade não tem continuidade, pois não se tem políticas de apoio para isso acontecer. Um exemplo foi o movimento de teatro de rua na década de 80 e início de 90. Grupos de teatros invadiram os recantos da cidade para levarem a arte a população que, muitas vezes, os recebiam com espanto. Nesse momento, a experiência de teatro desenvolvida, aqui, tinha uma peculiaridade importante: o despojamento dos exageros teatrais, fato que se justificava pela base de interpretação adotada: Stanislavski (falecido em 1938), ator, diretor, pedagogo e escritor russo.
Podemos perceber a atualização e a relevância do trabalho de teatro desenvolvido nesse momento, principalmente, pelo grupo Boca de Rua, pois foi na década de 80 que estava começando a se propagar os métodos e técnicas de preparação e interpretação do ator desenvolvido por Constantin Stanislavski, através do curso de teatro do Departamento de Artes da UFRN e do diretor de teatro Carlos Nereu, que dirigiu várias peças no cenário cultural de Natal nesse período.
O grupo Boca de Rua mantinha-se por teimosia movida pelo idealismo de seus componentes, entre eles destacamos Jefferson Fernandes. A falta de uma sede e recursos para montar os espetáculos era um problema crônico e superável até certo ponto. É sabido que quando as adversidades aumentam é comum a impossibilidade de continuidade dos projetos culturais. Essa é uma história conhecida, já repetida em versos, que acontece em todas iniciativas artísticas em nossa cidade. Essa fragilidade de produção seria superada se tivesse apoio, que se daria pelo poder público, por ser público. Afinal o conhecimento produzido pelo movimento artístico não é um bem significativo para nossa cultura e importante para cidade?
O resultado: o Boca de Rua foi desfeito, Currais Novos passou quase uma década sem grupos de teatro produzindo. Stanislavski foi esquecido. Para, em fim, surgisse a febre dos autos religiosos, propagando o espetaculoso, o teatral, o exagero ao extremo o oposto ao que se semeou na década de 80 e 90. A pergunta é: em que ganhamos? Como recuperar o tempo perdido? Isso só se daria se o poder público mudasse sua postura, o que não acontece, ela se reproduz a cada gestão, in perpetuum. Precisamos tomar a Bastilha ou, quem sabe, o armazém do curral!
Fotos: acervo de Elisabete Vinas
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