Tal discussão ganha um aspecto peculiar quando referente ao Rio Grande do Norte, visto o Estado potiguar carecer, por uma série de fatores de ordem histórica, política e econômica, de uma identidade cultural forte. Enquanto Estados brasileiros como Pernambuco, Maranhão, Ceará e Paraíba, para ficar só no Nordeste, possuem marcas e produtos culturais marcantes e reconhecidos mundo a fora, a exemplo do Frevo, da Literatura, da Música da Arte etc. que produto, que marca, que imagens, que sons, que lugares caracterizariam o RN, para além de um pretenso cenário de dunas e carnaval baiano para o turista? E quanto a Currais Novos?
Currais Novos construiu, ao longo do tempo, a imagem de
uma cidade inovadora, “pioneira”, devido ao incremento de grandes grupos
capitalistas que exploraram os recursos naturais de nossa cidade. A
estrutura física teve que se adequar àquele momento, uma forma elitizada
que beneficiavam o círculo dos abastados economicamente. As distinções
sociais eram gritantes, existiam espaços separados para as classes
sociais. As empresas faliram, ficaram os valores semeados nesse
período. A idéia de “pioneirismo” ainda é balbuciada por alguns
remanescentes desse período, mas não corresponde a verdade. Hoje, nossa
cidade copia as estratégias de outros centros próximos produtores de
cultura, como Mossoró, Campina Grande, Natal. Isso se deve ao fato da
elite política que fora educada e catequizada nos aventurosos tempos das
minerações, em que a valorização material era a referência de então,
constituir o grupo responsável por inovar, num tempo em que, por certas
limitações, era mais fácil copiar as estratégias alheias. O símbolo do
Cristo Rei no centro da cidade é uma prova desse comportamento. Mas, o
cerne da questão está na forma não democrática entre o poder e população
do nosso município. Os produtores de conhecimento de nossa cidade não
são reconhecidos, vejamos alguns exemplos: quando a administração
pública contratou empresa para elaborar a logomarca da nova gestão,
recorreu aos criadores de fora para criar algo sem o mínimo de
inovação. Quando, em outra administração, artistas locais estavam sendo
articulados para feitura de esculturas no pórtico da cidade, foram
alijados do processo e contrataram um artista de expressão estadual que
produziu um trabalho de pouca expressão. Quando colocam abaixo o antigo
mercado público local para construir uma praça em homenagem a um
empresário, quando modificaram a arquitetura da Praça Cristo Rei para
modernizá-la não consultaram a população. Tais desmandos são frutos de
uma postura política centrada no personalismo, a elite iluminada que a
ela cabe decidir em detrimento dos outros. Resta-nos apenas a percepção
objetiva ou subjetiva de que somos apenas habitantes destes currais,
novos ou não, sujeitos passivos aos nossos mandatários que se revezam e
nos deixam as marcas indeléveis da ignorância.
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