quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

IDENTIDADE CULTURAL




Vertentes dos estudos culturais apontam que nos tempos atuais a identidade cultural dos indivíduos, até então vista como algo cristalizado, vem sofrendo um processo de fragmentação, com a eclosão de inúmeras identidades dentro de um mesmo território. A forma pela qual os indivíduos se reconhecem não mais se baseia em uma identidade unívoca, mas em um grande número delas, seja a partir de um reconhecimento de classe social, etnia, gênero, religião, ou outro.

Tal discussão ganha um aspecto peculiar quando referente ao Rio Grande do Norte, visto o Estado potiguar carecer, por uma série de fatores de ordem histórica, política e econômica, de uma identidade cultural forte. Enquanto Estados brasileiros como Pernambuco, Maranhão, Ceará e Paraíba, para ficar só no Nordeste, possuem marcas e produtos culturais marcantes e reconhecidos mundo a fora, a exemplo do Frevo, da Literatura, da Música da Arte etc. que produto, que marca, que imagens, que sons, que lugares caracterizariam o RN, para além de um pretenso cenário de dunas e carnaval baiano para o turista? E quanto a Currais Novos?
Currais Novos construiu, ao longo do tempo, a imagem de uma cidade inovadora, “pioneira”, devido ao incremento de grandes grupos capitalistas que exploraram os recursos naturais de nossa cidade. A estrutura física teve que se adequar àquele momento, uma forma elitizada que beneficiavam o círculo dos abastados   economicamente. As distinções sociais eram gritantes, existiam espaços separados para as classes sociais. As empresas faliram, ficaram os valores semeados nesse período. A idéia de “pioneirismo” ainda é balbuciada por alguns remanescentes desse período, mas não corresponde a verdade. Hoje, nossa cidade copia as estratégias de outros centros próximos produtores de cultura, como Mossoró, Campina Grande, Natal. Isso se deve ao fato da elite política que fora educada e catequizada nos aventurosos tempos das minerações, em que a valorização material era a referência de então, constituir o grupo responsável por inovar, num tempo em que, por certas limitações, era mais fácil copiar as estratégias alheias. O símbolo do Cristo Rei no centro da cidade é uma prova desse comportamento. Mas, o cerne da questão está na forma não democrática entre o poder e população do nosso município. Os produtores de conhecimento de nossa cidade não são reconhecidos, vejamos alguns exemplos: quando a administração pública contratou empresa para elaborar a logomarca da nova gestão, recorreu aos criadores de fora para criar algo sem o mínimo de inovação. Quando, em outra administração, artistas locais estavam sendo articulados para feitura de esculturas no pórtico da cidade, foram alijados do processo e contrataram um artista de expressão estadual que produziu um trabalho de pouca expressão. Quando colocam abaixo o antigo mercado público local para construir uma praça em homenagem a um empresário, quando modificaram a arquitetura da Praça Cristo Rei para modernizá-la não consultaram a população. Tais desmandos são frutos de uma postura política centrada no personalismo, a elite iluminada que a ela cabe decidir em detrimento dos outros. Resta-nos apenas a percepção objetiva ou subjetiva de que somos apenas habitantes destes currais, novos ou não, sujeitos passivos aos nossos mandatários que se revezam e nos deixam as marcas indeléveis da ignorância.

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