sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CURURU COMBATENTE CONTRA O MITO FUNDACIONAL DOS CURRAIS



Não discutimos muito acerca de nossa história e de nossa cultura, na verdade mal a conhecemos. Quando se menciona a “História de Currais Novos” sempre se remete à figura do patriarca fundador, no nosso caso o Cel. Cipriano Lopes Galvão. O que tomamos como História é mais um mito de fundação, mito alicerçado na discriminação étnica e social que marca a trajetória e as estruturas do Brasil.
Oficialmente, a “História” de Currais Novos começa quando seu “primeiro” povoador adquire sesmaria na região do Seridó, constrói currais para o comércio de gado e um seu filho ergue a igreja em honra a Santana, fundando então Currais Novos. Negros, índios e trabalhadores não fazem parte dessa História, seu papel é minimizado ao extremo, é apagado numa verdadeira ‘limpeza’ étnica e social.
Isso é fruto de um projeto colonial que ainda ecoa em nossa terra nos dias de hoje, a eliminação física e simbólica de identidades diferencias foi estratégia de dominação dos invasores europeus e adotada por nossas elites após a independência do Brasil. Os índios que sobreviveram ao extermínio nos primeiros séculos de colonização foram aculturados, sendo obrigados a negarem sua identidade e adotarem a do colonizador, a participação dos negros, tão crucial para nossa história, é violentamente minimizada, alimentando um discurso falso e racista da quase inexistência de negros no Seridó.
Mas como temos apontado, identidade é processo, é construção, não é algo previamente dado e imutável. Mitos também não são ruins, são importantes formas de saber, de processos identitários, então é totalmente possível – e necessário – reconhecermos, revisarmos nossa história, nossos mitos fundacionais, principalmente quando ele ainda é legatário de um projeto colonial violento e discriminatório, a exemplo do que ainda hoje persiste nos Currais Novos. 

Por: Cururu Combatente

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