a territorialização do espaço que hoje
é referenciado como Seridó pelos órgãos de planejamento, sofreu modificações ao
longo do tempo, recortado que foi pela definição e redefinição dos limites de
atuação de suas elites. Cada novo desenho do Seridó seja no mapa, seja no
discurso, correspondeu a uma forma de dizibilidade desse poder. (MACÊDO, 2012,
p. 221)
ou
seja, esse identidade é mais uma construção imagético discursiva das elites
locais, refletindo seus anseios e valores. Elites cuja origem genealógica
legitimava-os como indivíduos que não partiam de um lugar étnico e social
qualquer, eram “brancos” e “fidalgos”. A leitura de cunho historicista que José
Bezerra Gomes empreende da gênese do seridoense é sintomática dessa questão:
E
contrastando com o tipo mestiço, morfológico, característico do meio
seridoense, de cabeça chata, observa-se a presença ainda hoje viva do elemento
branco, de olhos azuis e cabelos brancos, caracterizando o seridoense,
enobrecido pela sua origem genealógica, oriundo do antigo marinheiro
(dólico-louro), de origem lusa, lembrando loirões e alentejanos, originários de
Portugal. (GOMES, 1975, p. 41-42)
A
formulação acerca da caracterização étnica e social do seridoense de Bezerra
Gomes é um tanto confusa. Ele parece dizer que, embora exista um tipo mestiço
característico no Seridó, é o elemento branco, “de olhos azuis e cabelos brancos,
enobrecido pela sua origem genealógica dólico-loura lusitana” que representa o
seridoense característico.
A
aparente contradição nos revela uma intenção de branquear a identidade do
curraisnovense/seridoense. Branqueamento esse que constitui um fenômeno
sócio-cultural verificado em toda a América e em outras partes do mundo, fruto
do passado colonial do continente.
Fontes
consultadas:
GOMES,
José Bezerra. Sinopse do município de Currais Novos. Natal: Manimbu, 1975.
MACÊDO,
Muirakytan K. de. A Penúltima Versão do
Seridó: uma história do regionalismo seridoense. Natal/Campina Grande:
EDUFRN/EDUEPB, 2012.
MARCOS,
Eidson M. S. De Cabo Verde ao Rio Grande
do Norte: identidade étnica e social em Famintos de Luis Romano e Os Brutos
de José Bezerra Gomes. Campina Grande: UEPB, 2013.
QUEIROZ,
Amarino Oliveira de. As Inscrituras do Verbo: dizibilidades performáticas da palavra
poética africana. Recife:
UFPE, PGLetras, 2007. Tese de Doutorado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário