O muro que divide o Seridó em oriental e ocidental se deve à
gravidade dos polos que se concentram em duas cidades: Caicó e Currais Novos,
que atraíram para si a hegemonia comercial das cidades em volta. Caicó, a
matriarca do Seridó, por volta de 1788 já era município e Currais Novos foi elevada a condição de
cidade em 1920, precocemente teve seu impulso desenvolvimentista no século
passado, no período da segunda guerra mundial. A primeira ainda possui o mercado
antigo, símbolo de desenvolvimento econômico, a outra em seu lugar ergueu uma
praça em homenagem ao empresário de mineração que alimentou a circulação de
capital no município.
Aparentemente existe uma diferença, mas se nos detivermos na
causa ela diminui consideravelmente. Hoje, em Caicó, vemos uma pujante modernidade
no centro comercial, em nome do desenvolvimento econômico casarões seculares
são destruídos para dar lugar a modernas lojas e edifícios. Não existe
exclusividade nesse roteiro, é a via sacra das cidades, considerando a falta de uma
estratégia de conservação do patrimônio arquitetônico. A casa de cultura,
casarão antigo, permanece intacto e desprestigiado pela população no sentido de
conservação e manutenção, um apêndice que se tem, mas que não se valoriza. Esses
contornos são semelhantes e comuns na maioria das cidades que ainda não desenvolveram
a consciência de preservação da história.
O tempo de construção da cidade de Caicó facilitou seu núcleo
urbano a ter mais espaço para operar a destruição histórica sem alarde, não
conseguindo dizimar todo o seu passado, ainda, enquanto em Currais Novos, na
metade do século passado, lugarejo pequeno, é tomada por um surto de “modernidade”,
à adequação as exigências capitalistas imposta por empresas mineradoras que
exigiam estrutura física compatível ao padrão empresarial. Pega de supetão,
ainda estava se acostumando a ser cidade e foi violentada, obrigada a dar um
salto no tempo. Desprovida de razão se deixou levar pelas sensações prazerosas
da modernidade, a cidade se tornou uma sala de visita.
O critério de consciência de conservação movido pelo amor a
cidade não basta, isso deve ser revertido em leis que assegurem a permanência
desse sentimento em ação. Em Caicó não consta de uma lei de tombamento e em
Currais Novos há uma, mas só no papel, no faz de conta que se fosse aplicada
iria conservar as últimas construções antigas que resistiram à ignorância do
capital.
A Sant’Ana de Queicuó está sentada, sábia, não há pressa e tem
muito a tecer no rosário do tempo, já a que está em pé, nos Currais, quer ação,
quem sabe abrir as porteiras, mas ambas possuem jóias.
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