O Apartheid sócio
cultural se encontra enraizado na cultura em Currais Novos. Uma cidade que não
trabalha de forma à conservar suas matrizes culturais, marca de uma possível
identidade. A linguagem artística popular é entregue ao acaso, ao relento,
expulsos dos alpendres e praças é usurpada pelos delírios dos grupos econômicos
que visam exclusivamente o lucro. O entendimento da ideia de patrimônio cultural
exige a noção de senso de coletividade, contrariando, desse modo, os interesses individualistas
dos empresários. Essas distorções são um reflexo da ignorância operante de mentalidade
subdesenvolvida que entrava o acesso à cultura, modelando-a conforme a expectativa exclusiva do lucro, transformando-a em mercadoria
nos supermercados das festas voltadas para massas, afetando consideravelmente as bases de uma identidade
cultural. Desvinculada de sua razão
social, sobrepujada pelo interesse mercantil, a cultura popular vem sendo
apagada lentamente.
Tal situação é reforçada pelos nossos governantes que desprovidos de
compreensão sobre a importância da cultura, administram em conformidade aos
apelos do mercado, fins empresarial. Não é difícil identificar tal situação.
Na programação de uma determinada festa popular do calendário turístico,
uma cantadora de viola recebeu a irrisória quantia de R$ 40,00 para se
apresentar enquanto outras bandas, empresas, recebem rios de dinheiro? E essa
mesma categoria não está organizada. Os ceramistas desapareceram. Um artista
plástico, hoje, não encontra espaço adequado para exposições de sua produção. O
Boi de Rei do Trangola foi retomado pelo Ponto de Cultura Caçuá de Cultura, mas e as políticas públicas para sua manutenção e as condições para prosseguir
produzindo, quais medidas adotadas? Ou vão reproduzir as
posturas de sempre? Terá o mesmo destino do teatro de rua ocorrido na década 80
e 90, que não teve um suporte institucional para dar continuidade e gerar mais
conhecimento para nossa comunidade. Quantos
grupos de teatro produzem em Currais Novos? E o pastoril da Mina Brejuí vai ser
preservado? Os brincantes de João Redondo? O artesanato que produzimos tem
traço característico de nossa cultura ou não temos elementos culturais suficientes
que sustentem algum traço de identidade? Até que ponto somos originais, os
nossos profissionais recorrem ao acervo de conhecimento produzido aqui? Ou não passamos de copistas de fórmulas “bem sucedidas” de
outros centros produtores de cultura? As respostas a esses questionamentos nos
permitem constatar que há alguma coisa errada.
O órgão que responde pela cultura no nosso município fica esperando
pela instalação do conselho municipal de cultura que depende da assinatura do
prefeito para isso acontecer, gerando uma inoperância neste setor. Acredito que
traçar as diretrizes, propor um projeto cultural para Currais Novos é
prerrogativa para qualquer administrador. Se o nosso prefeito tivesse adotado
as reivindicações propostas pelos produtores culturais, as ONGs, a situação não
estaria assim. Teríamos, portanto, uma Secretaria de Cultura que responderia
por estas políticas, oposta a situação que se encontra atualmente: um
secretário para deliberar pelo Turismo e Cultura. Além dos objetivos destas pastas
serem diferentes, torna-se impraticável o secretário abarcar de forma eficaz as
demandas culturais. Isto já está provado, durante esses seis meses não se viu
sinal nesse sentido.
No informativo de julho da prefeitura ressalta o “Projeto de Francilúzio
de Música Potiguar e Brasileira” na área da cultura, ação, essa, que nas
últimas edições não teve a receptividade de público desejado. E a
reestruturação da Banda de Música Maestro Santa Rosa continua sem investimentos
significativos. Estas ações não são justificadas, nem pensadas, assim como previstas
segundo as necessidades e diretrizes culturais presentes num projeto de cultura,
elas foram adotadas por iniciativa individual segundo a sabiência do gestor,
pois a prefeitura não tem, ainda, seu projeto de cultura. O personalismo sempre
foi o traço marcante de nossos políticos, nossos gestores culturais mantêm a
coerência, um ser considerado iluminado, um Moisés da cultura que possuem as
tábuas dos mandamentos culturais. Estamos em novos tempos, o Sistema Nacional
de Cultura não comporta mais o personalismo institucional que reforça e perpetua
valores excludentes empobrecendo mais
ainda nossa cultura e município.
Tudo isso nos leva a concluir que precisamos ter um planejamento
inteligente, fundado na leitura da realidade sem ufanismo, perceber as causas
dos erros adotados ao longo da história e as necessidades atuais para podermos
firmar nossas matrizes culturais, elementos de criação de um futuro, mais rico, fortalecendo, então, nossa identidade cultural.
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