O encerramento da semana do teatro no Espaço Avoante de
Cultura, Currais Novos –RN, teve uma programação para o dia mundial do teatro, dia
27 de março. A noite começou com a apresentação da conclusão da oficina teatro ministrada pelo ator e diretor Paulo Gomes, iniciada no dia 25 de março, em seguida a apresentação do Grupo Caçuá de Mamulengo, contamos também com espaço reservado
a divulgação de projeto por Diana Fontes e a performance Terra Mãe da Cia
Empório Dell’Arte que fugindo do enquadramento recitatório, comuns nas cercanias,
adotou recursos mais teatralizados, valorizando o trabalho.
Oficina de teatro |
Grupo Caçuá de Mamulengo |
Performance Terra Mãe |
O dia, também, foi marcado por uma constatação: entre os
presentes na plateia poucos currainovenses, boa parte dos espectadores era de
Acari-RN, cerca de 50 alunos do Projovem vieram apreciar a noite de comemoração
do dia do teatro. O mesmo aconteceu com a oficina de teatro, 75% dos inscritos
era de Acari e São Vicente-RN. Essa apatia dos curraisnovenses pelo teatro nos
preocupa e tem nos levado a refletir sobre a realidade cultural do município.Como todas as linguagens artísticas, o teatro se utiliza de multiplos
recursos e de variadas formas. Podemos conferir isso, observando nossa
história. Na década de 80 e 90 o teatro de rua teve seu apogeu. Entre os
diversos grupos que atuavam, naquele momento, destacamos o Grupo Boca de Rua que adotava
um repertório crítico, que buscava uma qualidade interpretativa sem excessos e modelos pré-estabelecidos e tinha como base para o trabalho o diretor russo, ator e pedagogo
Constantin stanislavski, Augusto Boal, grande figura do teatro contemporâneo e
Viola Spolim que valorizava o teatro improvisacional. Nesse momento acontece o
primeiro movimento de teatro em Currais Novos.No final de 90 e o começo da década seguinte, o teatro ficou
limitado a algumas escolas que o restringia às exigências dos calendários
festivos e o humor de seus diretores, geralmente de escolas particulares que não
prezavam pela formação teatral. Em 2005, mercadores das artes, motivados pelo dinheiro
público, aportam suas caravelas vendendo resultados, é a chegada dos autos
religiosos. Surge, então, o espetaculoso, implanta-se uma nova fase, só que,
agora, prevalecem os exageros e a interpretação artificial modeladas por
fórmulas. As alegorias e as exaltações dos gestos são valorizadas, sobressaem
os excessos e brilhos em todos os sentidos. Pegos de surpresa, sem referências
abrangentes capazes de gerar
discernimentos sobre a linguagem teatral, jovens
são captados para estes empreendimentos e passam a tomar tais recursos como o
primor do fazer teatro e se arvoram no ofício de propagadores, reproduzi-los como
ideário, sem a mínima preocupação com a leitura e estudo mais aprofundado, tendo
como base teórica os comandantes da expedição, que ao
ganharem seus dividendos, cumprido seu ofício, partem numa nuvem fria em sua
caravela prateada. Nesse imbróglio, embrulhada, podemos perceber o quanto
estamos à deriva, a mercê da descontinuidade, devido, principalmente, à
ausência de um plano de cultura da administração pública que permita pensar o passado e
planejar o presente e futuro. Queríamos que fosse diferente a nossa história,
mas não existem elementos que a propiciasse, qual a importância que nossos
educadores dão a arte se eles não a apreciam? E a elite dos governantes que financiam a arte voltada para as massas que não se reveste da preocupação com o conteúdo e a construção do indivíduo?Será que nada do que foi plantado pelos nossos
pioneiros vicejou? Não existe conexão com o que se fez, falta continuidade,
parece que tudo sempre começa do nada. Nossa estrada é encontrar essas
respostas para poder seguir andando, caso contrário, se arrastando.
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