sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

CARNAVAL CULTURAL, A RESISTÊNCIA




A convocação feita à Associação Avoante de Cultura para o engajamento no projeto do carnaval cultural 2013 nos remeteu a uma velha luta. Reporto-me à década de 90, quando no Arrastão da Gorette confeccionávamos bonecos gigantes com restos de espuma de colchão e remendávamos o parco tecido para suas roupas. Lembro-me do boneco do presidente Lula que o recepcionou quando esteve em Natal,  da alegoria de mão intitulada "A Mão Que Sangra" no desfile de carnaval em protesto ao governo do Dr. Mozar Dias e do bloco "Vírus do Ipiranga" com suas fantasias feitas de material reciclado que faziam críticas a ordem vigente. Todavia, o desencanto se abateu sobre Renatão do Arrastão da Gorette que, depois de uma década de descaso do poder público com relação ao seu trabalho, não resistiu ao pensamento elitista dos proprietários dos Currais que não incluia a cultura popular em sua agenda.
O momento que parecia marcar o  fim do carnaval popular em Currais Novos, a partir de 2006, com as gestões municipais de Zé Lins e Geraldo Gomes, felizmente não se confirmou, pois fomos despertados mais uma vez com o Arrastão do Boi. A semente estava adormecida nos olhos das crianças que se deslumbravam com os nossos bonecos gigantes e fantasias e que, hoje, adultos, movidos por essa lembrança feliz retomaram mais uma vez o carnaval popular. Não foram em vão nossos esforços, ninguém pode apagar o brilho dos olhos da criança de Ronaldo, Paula Érica, Adriano Nunes, Siderley e todos os artistas envolvidos no projeto do Arrastão do Boi que aprenderam a ver a beleza no mundo, a importância da cultura para transformação do indivíduo. Entendimento esse que os nossos governantes não conseguiram atingir, tolhidos que estão pelos interesses individualistas de seus clãs na apartheid de classes sociais em que prevalecem os valores de uma elite catequizada pelo “neocoronelismo”, que submete a população de baixa renda à extorsão eleitoral, relegando a ela uma função utilitarista para realização de seus intentos.
 As manifestações populares que valorizam e dignificam o indivíduo, que tem como articuladores a comunidade organizada, se inserem como intrumento da participação popular, contraponto ao modelo político administrativo adotado pelos nossos governantes que ainda seguem cartilhas de políticas reacionárias distante das diretrizes constitucionais. Tais entidades mostraram sua capacidade de mobilização ao organizar o Arrastão do Boi conferindo-lhe força e poder. 
Carnaval de Todos os Tempos idealizado por Jefferson Fernandes

Apesar do conservadorismo que impera no setor governamental em Currais Novos, iniciativas de participação popular aconteceram ao longo de sua história. No início da década de 90, destaca-se a iniciativa do coordenador de cultura Jefferson Fernandes. Ele construiu um projeto de carnaval junto com os artistas que consistia na realização de arrastões. Estes partiriam de cinco pontos da cidade com bonecos gigantes representando os bairros envolvidos. Daí surgiu o Arrastão da Gorette. Em 2005 houve uma tentativa de retomada  do projeto que foi abandonado nos anos subsequentes.
Fantasias e bonecos do Arrastão da Gorette
Arrastão da Gorette
A retomada do carnaval participativo e de iniciativa da comunidade civil organizada evidencia uma demanda cultural de caráter popular que não é atendida pelas adminsitrações públicas. Enquanto não for criado o espaço de direito para a cultura, por mais que tentem ignorá-la, a necessidade da expressão artística, do belo, estará sempre presente nas manifestações populares reinvidicando o reconhecimento devido. O Arrastão do Boi é uma prova desse desejo.





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