A MÍDIA E A REALIDADE
Maria Judith Brito, presidente da Associação
nacional de Jornais
Em qualquer análise à nossa grande imprensa
(ela prefere chamar-se de ‘mídia’), lamentável é a necessidade de repetir, cem
vezes repetir e continuar repetindo, que o objeto de nossos ‘meios’ não é
informar (já ninguém cobra isenção), mas manipular a informação, e fazê-lo de
forma aética, porque escondida, negada, negaciada. A grande imprensa,
senhorial, travestida no papel de vestal, toma partido, distorce os fatos
segundo seus interesses econômicos-políticos, posando de imparcial.
Aliás, penso que a questão de fundo já não é a manipulação, o partis
pris, mas a insistência em apresentar-se como isenta, na tentativa de
conquistar abono social para sua má conduta. Julga-se acima do bem e do mal,
acima das leis e do Estado, mas, ao contrário da mulher de César, não é séria,
nem parece ser séria.
É clássico, conhecido até pelos alunos dos
primeiros períodos dos cursos de Comunicação Social (meus alunos pelo menos
sabiam), o mecanismo de construção da realidade mediante a criação de ‘fatos’,
pois, ‘real’ não é o evento assim como ocorreu, mas o evento narrado (a
‘notícia’), real ou não.
Entre
nós, esse processo já virou prática cediça, e, uma vez conhecido, a mais
ninguém engana. Funciona assim: um órgão da auto-intitulada ‘grande imprensa’
veicula um texto criado em sua ‘cozinha’ a partir de simplesmente nada ou de
ilações, o que dá no mesmo, e nos dias imediatos, cada um à sua vez, os
jornalões seguem repetindo aquela matéria já como se ela fosse uma ‘notícia’, e
o ‘fato’, isto é a matéria inventada, passa a ter vida. Em regra, ou a ‘denúncia’
é lançada por um jornalão e repicada na revistona, ou começa na revistona (é o
caso recente) e termina nos jornalões. Termina, em termos. Pois essas matérias,
de extrema falsidade, de um jornalismo que, se tivesse cor, seria a
marrom, não foram criadas como obra jornalística, mas simplesmente para
alimentar ações políticas, de uma oposição sem capacidade de criar fatos, como
docemente nos informa dona Maria Judith, com a alta responsabilidade de
presidente da ANJ. Aí, então, eis o ritual, um indefectível
senador, sempre presente na mídia televisiva, aparece denunciando a ‘gravidade
dos fatos apontados pela mídia’, e sua ‘denúncia’ volta a alimentar a mídia.
VEJA NA ÍNTEGRA A MATÉRIA:
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