A UNIDADE
Quando se
vive um papel, o ator deve está integrado inteiramente ao contexto da realidade
criada. Segundo Stanislavsk, “Representar verdadeiramente significa estar
certo, ser lógico, coerente, pensar, lutar, sentir e agir em uníssono com o
papel.”
Criar uma
vida interior para personagem requer veracidade, para isso é necessário tomar
emprestado nosso acervo de experiência humana e adaptá-la, encarnar essa outra
pessoa, a personagem. A nossa natureza humana assinala uma relação de causa e
efeito. O comportamento humano está integrado às causas profundas, vinculadas
aos sentimentos que agem como modelador de nossas motivações e vontade. Desse
modo, um personagem deve está em “uníssono” numa composição humana plena.
Quando
isso não ocorre percebemos a desagregação dos elementos que o compõem,
tornando-os independentes. O corpo e a fala não se relacionam em consonância,
pois o texto se utiliza de malabarismos demonstrando virtuosismos exagerados
criado pela necessidade do ator. Empregos de recursos de entonação artificiais
que não sustentam a verdade a qual a personagem necessita: agir segundo o que
está sentindo. As partes compositivas acontecem em planos paralelos se
destacando individualmente, adquirindo vida própria desconectada do todo. E
tudo isso pode ser multiplicado quando o figurino, maquiagem, cenário e
iluminação não correspondem à verdade criada, não fluem num corpo, num sistema
orgânico em que as partes são interdependentes no sentido das necessidades
preementes do existir.
A plateia
é um detector importante para aferir o resultado proposto pelo espetáculo,
pois a receptividade do espectador se dá pela sinestesia criada a partir da
relação experimentada ao aceitar os referenciais criados da verdade
apresentada. Introjetados e entendidos os sinais expressivos de que se reveste
a linguagem, esses entram em consonância com os parâmetros vivenciais do
espectador, confirmando através do sentir a sinceridade da personagem quanto à
fidelidade com o sentimento que se reveste, se é verdadeiro.
Corpo,
gesto, texto, fala, maquiagem, figurino, luz, a história da personagem, etc.
devem ser um só, movidos por uma intensidade viva, vida interior do espírito
humano, que justifica a causa que impulsiona qualquer ação, gesto, modelação
emocional da personagem. Logo, todas as partes que compõe uma criação
devem obedecer ao critério de unidade.
João Macambira
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