quarta-feira, 30 de maio de 2012

SOBRE TEATRO - 01



A UNIDADE


Quando se vive um papel, o ator deve está integrado inteiramente ao contexto da realidade criada. Segundo Stanislavsk, “Representar verdadeiramente significa estar certo, ser lógico, coerente, pensar, lutar, sentir e agir em uníssono com o papel.”

Criar uma vida interior para personagem requer veracidade, para isso é necessário tomar emprestado nosso acervo de experiência humana e adaptá-la, encarnar essa outra pessoa, a personagem. A nossa natureza humana assinala uma relação de causa e efeito. O comportamento humano está integrado às causas profundas, vinculadas aos sentimentos que agem como modelador de nossas motivações e vontade. Desse modo, um personagem deve está em “uníssono” numa composição humana plena.

Quando isso não ocorre percebemos a desagregação dos elementos que o compõem, tornando-os independentes. O corpo e a fala não se relacionam em consonância, pois o texto se utiliza de malabarismos demonstrando virtuosismos exagerados criado pela necessidade do ator. Empregos de recursos de entonação artificiais que não sustentam a verdade a qual a personagem necessita: agir segundo o que está sentindo. As partes compositivas acontecem em planos paralelos se destacando individualmente, adquirindo vida própria desconectada do todo. E tudo isso pode ser multiplicado quando o figurino, maquiagem, cenário e iluminação não correspondem à verdade criada, não fluem num corpo, num sistema orgânico em que as partes são interdependentes no sentido das necessidades preementes do existir.

A plateia é um detector importante para aferir o resultado proposto pelo espetáculo, pois a receptividade do espectador se dá pela sinestesia criada a partir da relação experimentada ao aceitar os referenciais criados da verdade apresentada. Introjetados e entendidos os sinais expressivos de que se reveste a linguagem, esses entram em consonância com os parâmetros vivenciais do espectador, confirmando através do sentir a sinceridade da personagem quanto à fidelidade com o sentimento que se reveste, se é verdadeiro.

Corpo, gesto, texto, fala, maquiagem, figurino, luz, a história da personagem, etc. devem ser um só, movidos por uma intensidade viva, vida interior do espírito humano, que justifica a causa que impulsiona qualquer ação, gesto, modelação emocional da personagem. Logo, todas as partes que compõe uma criação devem obedecer ao critério de unidade.

João Macambira  

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