terça-feira, 23 de julho de 2013

CURRAIS NOVOS, UMA CIDADE EXCLUDENTE?



O Apartheid sócio cultural se encontra enraizado na cultura em Currais Novos. Uma cidade que não trabalha de forma à conservar suas matrizes culturais, marca de uma possível identidade. A linguagem artística popular é entregue ao acaso, ao relento, expulsos dos alpendres e praças é usurpada pelos delírios dos grupos econômicos que visam exclusivamente o lucro. O entendimento da ideia de patrimônio cultural exige a noção de senso de coletividade, contrariando, desse modo, os interesses individualistas dos empresários. Essas distorções são um reflexo da ignorância operante de mentalidade subdesenvolvida que entrava o acesso à cultura,  modelando-a conforme a expectativa exclusiva do lucro, transformando-a em mercadoria nos supermercados das festas voltadas para massas, afetando consideravelmente as bases de uma identidade cultural. Desvinculada de sua razão social, sobrepujada pelo interesse mercantil, a cultura popular vem sendo apagada lentamente.
Tal situação é reforçada pelos nossos governantes que desprovidos de compreensão sobre a importância da cultura, administram em conformidade aos apelos do mercado, fins empresarial. Não é difícil identificar  tal situação.
Na programação de uma determinada festa popular do calendário turístico, uma cantadora de viola recebeu a irrisória quantia de R$ 40,00 para se apresentar enquanto outras bandas, empresas, recebem rios de dinheiro? E essa mesma categoria não está organizada. Os ceramistas desapareceram. Um artista plástico, hoje, não encontra espaço adequado para exposições de sua produção. O Boi de Rei do Trangola foi retomado pelo Ponto de Cultura Caçuá de Cultura, mas e as políticas públicas para sua manutenção e as condições para prosseguir produzindo, quais  medidas adotadas? Ou vão reproduzir as posturas de sempre? Terá o mesmo destino do teatro de rua ocorrido na década 80 e 90, que não teve um suporte institucional para dar continuidade e gerar mais conhecimento para nossa comunidade.  Quantos grupos de teatro produzem em Currais Novos? E o pastoril da Mina Brejuí vai ser preservado? Os brincantes de João Redondo? O artesanato que produzimos tem traço característico de nossa cultura ou não temos elementos culturais suficientes que sustentem algum traço de identidade? Até que ponto somos originais, os nossos profissionais recorrem ao acervo de conhecimento produzido aqui? Ou não passamos de copistas de fórmulas “bem sucedidas” de outros centros produtores de cultura? As respostas a esses questionamentos nos permitem constatar que há alguma coisa errada.
O órgão que responde pela cultura no nosso município fica esperando pela instalação do conselho municipal de cultura que depende da assinatura do prefeito para isso acontecer, gerando uma inoperância neste setor. Acredito que traçar as diretrizes, propor um projeto cultural para Currais Novos é prerrogativa para qualquer administrador. Se o nosso prefeito tivesse adotado as reivindicações propostas pelos produtores culturais, as ONGs, a situação não estaria assim. Teríamos, portanto, uma Secretaria de Cultura que responderia por estas políticas, oposta a situação que se encontra atualmente: um secretário para deliberar pelo Turismo e Cultura. Além dos objetivos destas pastas serem diferentes, torna-se impraticável o secretário abarcar de forma eficaz as demandas culturais. Isto já está provado, durante esses seis meses não se viu sinal nesse sentido.
No informativo de julho da prefeitura ressalta o “Projeto de Francilúzio de Música Potiguar e Brasileira” na área da cultura, ação, essa, que nas últimas edições não teve a receptividade de público desejado. E a reestruturação da Banda de Música Maestro Santa Rosa continua sem investimentos significativos. Estas ações não são justificadas, nem pensadas, assim como previstas segundo as necessidades e diretrizes culturais presentes num projeto de cultura, elas foram adotadas por iniciativa individual segundo a sabiência do gestor, pois a prefeitura não tem, ainda, seu projeto de cultura. O personalismo sempre foi o traço marcante de nossos políticos, nossos gestores culturais mantêm a coerência, um ser considerado iluminado, um Moisés da cultura que possuem as tábuas dos mandamentos culturais. Estamos em novos tempos, o Sistema Nacional de Cultura não comporta mais o personalismo institucional que reforça e perpetua  valores excludentes empobrecendo mais ainda nossa cultura e município.
Tudo isso nos leva a concluir que precisamos ter um planejamento inteligente, fundado na leitura da realidade sem ufanismo, perceber as causas dos erros adotados ao longo da história e as necessidades atuais para podermos firmar nossas matrizes culturais, elementos de criação de um futuro, mais rico,  fortalecendo, então, nossa identidade cultural.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário