quarta-feira, 7 de março de 2012

POESIA


VERTEDOR

E essa chuva que não chega para lavar essa epiderme
que "excrementa" líquido viscoso de sangue azul fedido
do cefálico esterco dos currais dos filhos dos coroneis.
E essa chuva que não chega para fertilizar o desejo
dos pingos em riachos, rios, arrastando em camaleões*
a santa que se fez  vil na espora das palavras vãs
destes filhos dos anéis.
Já é março e o inclemente azul rodopia o céu e os
objetos sagrados.
Sant'Ana se aproxima com seus penduricalhos rodando feito
um peru bêbado em seu andor, aí será tarde.
E essa chuva que não chega para verter meus olhos
sob a paisagem de mãos que cativam o sonho.



João Antonio Macambira

* Forma de expressar, na minha cidade, as elevações em forma de onda que ocorrem quando o rio desce com enchente. 

Um comentário:

  1. Ótimo, JAM

    Lembra-me Patativa no conteúdo e Paulo Leminsk na forma, no estilo...
    Mas para fazer se arrastar centenas de palavras em torno de um perú bêbado, só a ousada maestria de um Catota, de um Macambira...

    Me vi forçado a sair do regime da Net para dizer algo diante da estiagem de palavra que, de fato, mitigam a sede por essas bandas...

    Se não fosse a recente enxurrada provocada por Iarinha, e as chuvas temporãs de Wescley, acho que estaríamos por aqui quase a morrer à sede.

    Valeu, camarada João!

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