ENTRE O BOM, O BELO E O
CONFUSO
Uma análise do 4º
aniversário do Avoante
Por
PAULO GOMES
No último dia 26 de setembro, o Espaço Avoante de
Cultura comemorou o seu 4º aniversário. Havia as vontades todas de uma noite
que nascia em dias anteriores através da Oficina Avoante de Teatro, a
expectativa pelas vozes do Quarteto Dó Maior e ainda pela apresentação que
seria a principal atração da noite – Cia. Arte e Riso, trazendo “O Meu Nome é
Zé”.
No primeiro momento, os participantes da Oficina
Avoante de Teatro, sob coordenação de Hélio Rocha, brincaram, seriamente, sob a
práxis do Teatro do Oprimido de Boal, especificamente através da técnica do
denominado Teatro Fórum, onde identifica-se o
teatro do oprimido não como teatro para o oprimido, mas, como teatro dele mesmo.
Há um sentido maior onde podemos identificar, claramente, uma ação sócio
educativa – para além, uma ação sócio-político educativa.... Lembremos adiante
a política na análise que ora se desenvolve.
Fascinante ver a participação do público presente na
intervenção sob a orientação do curinga Hélio Rocha, bem como, o empenho dos
jovens na proposta que se concretizava em algo que, certamente, era novo a eles,
era o teatro imbuído de um caráter para além das práticas restritas ao universo
escolar e que, naquele momento, traduzia-se no universo que é o teatro – sim, é
preciso, pois, muita leitura, pesquisa, estudo para entender, em parte, a
amplitude do fazer teatral.
Seguindo a programação, entra em cena as vozes do
Quarteto Dó Maior. A voz a ocupar todo o Avoante, o todo, o suave e atingível
nirvana de acalento a alma – talvez exagero meu; mas, é-nos democrático o
princípio do contraditório no que analisamos e outras opiniões devem e podem se
manifestar. Porém, trago comigo ainda a sensação da competência daquelas vozes,
daqueles rapazes e daquela menina – momento mágico, necessidade de ouvir mais e
mais. Certamente preencherão nossa alma mais vezes em todos os cantos que se
possa a voz não calar, mas ser arte.
O momento final da noite: Cia. Arte e Riso. O
interior com o seu teatro panfletário, não como regra, claro, mas como a
necessidade de a rua ocupar todos os lugares e adaptar-se a eles. Umarizal se
fez presente num discurso que navegou num universo popular, porém, confuso,
onde a dramaturgia contrariou o próprio discurso de Brecht (O Analfabeto
Político) incluído no texto do espetáculo. Senti ali, com profunda
perplexidade, a cena corrompida por contradições de discursos. Não salvaria,
pois, o espetáculo, o bom figurino, a cenografia interessante, o incentivo
recebido pelo prêmio da Cena Jovem. Faltava um texto coerente e que não se
fizesse por equívocos que contradissesse ao próprio Brecht ali integrado. Brecht
soou perdido dentro da proposta da companhia, foi um arremedo ao autor, uma
distopia ao discurso de Brecht, ao seu pensamento, ao seu legado. E ainda, para
potencializar os desencontros dramatúrgicos, a democracia vista de uma forma
alienante – o teatro também aliena e cria analfabetos políticos – naquele
momento, imaginei Brecht revirando no túmulo.
Por último, o “Meu Nome é Zé” apresentou o rito da
eleição, onde a vontade majoritária prevalece, só que no espetáculo o ato se
desfaz na forma de piada que busca o riso fácil. Num momento em que nossa
democracia é ameaçada por discursos vazios em seu conteúdo e por vontades de
grupos que nos exploram desde os primeiros momentos em que um europeu aqui
plantou os pés, necessário pensarmos muito bem no que incutimos objetiva e/ou
subjetivamente na multidão de analfabetos políticos que ainda temos e que
carecem de um entendimento deles mesmos e da necessidade de se superar enquanto
ser humano para constituir uma verdadeira sociedade de homens e mulheres pensantes.
No fim, minha alegria em alguns momentos, felicidade
plena em outros, riso em circunstâncias identificáveis e atonia em boa parte do
Meu Nome é Zé. Fica a dica para nós Avoantes: é preciso conhecer o que ocupa
nosso espaço, pois, sonhamos, somos utópicos... ainda!!!
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