E TUDO TERMINA EM CINZAS,
Confetes e serpentinas
Por Paulo Gomes
Não
tive o prazer de participar dos festejos carnavalescos de nossa cidade.
O Arrastão passou e eu passei – quase em brancas nuvens. A exceção a
ausência total aos festejos foi o tempo que passei com meu filho e
alguns amigos no espaço próximo ao palco. Isso na segunda, com a grata
surpresa de Jonas Linhares a encantar-nos com sua proposta musical
consonante com os objetivos do Arrastão: carnaval cultural. Isso parece
uma redundância equivocada. O carnaval é cultura em si. Talvez quando
cada um dos idealizadores pensou na proposição carnavalesca, buscavam o
reavivamento de uma proposta que viesse de encontro ao povo e neste
tivesse suas bases de consecução. É bem isso que vem acontecendo. Passo a
passo o nosso carnaval vai procurando (re) descobrir sua face ou sua
máscara que essencialmente terá no povo seus personagens principais na
figura de foliões a ocuparem todos os espaços que se permita ocupar.
Nos
demais dias, pulei o carnaval com os olhos a saltitar com os
comentários postados nas redes sociais pelos foliões dos Currais. Ficava
feliz com a alegria das muitas percepções positivas relacionadas ao
nosso carnaval que tem no Arrastão do Boi o seu sinônimo, seu símbolo
que denota uma possível identidade carnavalesca a ser nossa fantasia
nestes quatro dias de profanidade consagrada à alegria.
Baile de
máscaras na sexta – uma pretensão de resgatar a festividade de clube,
Dodora Cardoso no sábado e domingo (que venha nos próximos anos), Dia do
Contrário na segunda. Nesse dia, em particular, provoquei minha esposa a
participar junto comigo da ideia, porém, questões de saúde na família
não permitiram nem seguir adiante com os estudos para figurino. Jonas
Linhares subiu ao palco na noite desta mesma segunda. Khrystal na última
noite de folia – a grande atração. Cinzas por vir, ainda na terça de
carnaval.
(...)
Uma breve pausa para tentar entender os
comentários que destoaram da festa, da alegria, da percepção de carnaval
popular. Num primeiro comentário de uma querida amiga, havia uma
referência a “apropriação indébita” por parte de um grupo específico
de
conotação política partidária que a questionara se havia mudado de lado
por está participando do festejo carnavalesco – coisa esquisita,
comentário igualmente esquisito; conhecendo cada um dos idealizadores da
ideia do Arrastão e seus objetivos, eximo-me de contra argumentar ao
exposto por minha amiga, afinal, o carnaval é do povo e assim sei que os
idealizadores o percebem. Mais leituras adiante e percebi um ecoar de
textos dissonantes com a expectativa de uma Khrystal linda, leve e solta
na sua arte de cantar e encantar. Parece que houve um desencontro, um
desencanto. Não entendia todo o burburinho potencializado nas redes
sobre um chilique de “estrela global”, ou fazia de conta não entender.
Simplifiquei o pensamento em: “Ela não estava num bom dia, certamente!”.
Mas, tinha que ser logo na terça de carnaval? Sobre o palco que se
constrói dos sonhos destes nossos artistas cheios de vontades nossas de
alegria, de vontades deles mesmos de reavivar, como já disse antes, a
festa do povo, para o povo?
É, mais continuamos caminhando aos
pouquinhos. O percurso parece ter sido maior nesse ano. A festa se
agiganta devagarzinho, como deve ser os exercícios de construção do
fazer cultura, do viver cultura. Acho que estamos no caminho certo,
tirando o errado que estava ali ao lado a estourar nossos tímpanos sob a
hedionda denominação de paredão. Algo a se pensar para os próximos
anos. Porém, isso é outra história. Na avaliação, com certeza, muitos
pontos serão elencados e discutidos e novos caminhos apresentados. No
fim, confetes, serpentinas e sons de músicos na trivela, na voz de
Dodora, de Jonas e até mesmo de Khrystal, excetuando a sua fala que não
nos faria qualquer falta como o faz sua música, sua arte. Não
menosprezarei a artista, pois assim estaria menosprezando seu fazer
artístico. E neste dia de cinzas de carnaval, as serpentinas e confetes é
o que na verdade nos sobra como prenúncio do que virá e como sinônimo
de que foi bom – apesar de todo pesar e tanto pesar promover a alegria
de todos indistintamente. E a alegria está logo ali no Arrastão do Boi.
E, da próxima vez, quero também ser arrastado pela felicidade profana
desses dias e desse Boi.
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