O romancista, poeta e ensaísta
José Bezerra Gomes constitui um marco no que se refere à proposição de uma
política pública cultural para Currais Novos. Foi dele a ideia de se criar um
órgão de fomento a cultura em nosso município, que hoje se consubstancia na
fundação cultural que leva seu nome. Nas páginas de seu romance de estréia “Os
Brutos”, lançado pela primeira vez em 1938, Bezerra Gomes faz uma leitura
crítica (ainda atual) da sociedade em que vive, inclusive apontando a
insipiência das instituições culturais da cidade, como no capítulo 10 que trata
da escola. Hoje, 27 de março, dia nacional do Teatro, faz-se pertinente
refletir sobre a condição cultural do nosso município, denunciado pelo autor
que expõe o descaso da sociedade para com a arte.
Um marco do teatro em Currais
Novos é o movimento do Teatro de Rua protagonizado pelo grupo “Boca de Rua”,
surgido na década de 80 e início de 90, após o qual o município enfrentou mais
um período de inércia no que toca à produção teatral. O movimento do Teatro de
Rua, com seu caráter popular, problematizou o imaginário referente à arte
teatral e a ausência de estruturas para a prática cênica com sua radicalidade
estética de ocupação do espaço urbano. Ganhos que parecem ter se perdido frente
à lacuna temporal deixada pela não continuidade do movimento. O terceiro
milênio chegou com a experiência dos autos religiosos em Currais Novos, que
trouxeram com eles a noção do espetaculoso e linguagem apelativa, instituindo
novos conceitos do fazer teatro que remetem a formas mais tradicionais do
“teatral”, do exagero.
O cenário atual se caracteriza
por uma estagnação acentuada dessa condição histórica no teatro em Currais
Novos: precariedade de equipamentos físicos para o teatro – existe um teatro
público inacabado desde 2007, um anfiteatro público subutilizado e com problema
de acústica e o Espaço Avoante funcionando dentro de algumas limitações –,
acompanhada pela ausência de políticas públicas de incentivo à produção
teatral. Esses fatores geram uma produção teatral tímida, dotada de linguagem e
expressividade a serem construídas. Para reverter esse quadro, torna-se
necessário a prática, isto é, a produção que favorece o desenvolvimento
expressivo.
É importante, portanto, se
planejar ações gestoras para o teatro no nosso município, de maneira que se
criem estratégias de manutenção dos produtores teatrais e políticas culturais
voltadas para formação e estímulo a criação de grupos de teatro, considerando
sua inserção no nosso contexto social marcado pelo modo de produção
capitalista. Inserção que não se limite aos interesses mercadológicos, sendo
marcada por um caráter transformador que satisfaça as necessidades de desenvolvimento
do indivíduo e da própria linguagem cênica.
Outra meta a ser alcançada está
relacionada à garantia de acesso ao público a peças de teatro, de forma que se
promova o acolhimento da população no sentido de criar um entendimento e
reconhecimento da relevância dessa linguagem artística para a sociedade.
Acolhimento que venha a despertar a consciência estética para o teatro na terra
d’Os Brutos.