Uma tentativa de
manutenção da vida do nosso pequeno
Frankenstein.
Por
PAULO GOMES
Não obstante a outras crises que possam
ser mais interessantes do que a enfrentada por todos, essencialmente, que usam
os serviços do nosso hospital (?) – permitam-me a interrogação; vimo-nos diante
de discursos entusiasmados e entusiasmantes de parcela considerável de pessoas
que vislumbram a fragmentação do que sempre visualizei como um Frankenstein.
Embora estranhem os sempre bons leitores
de péssimas leituras que por vezes construo, é necessário que alguém diga algo
contrário ao que ora se propaga pelo universo virtual da internet e pelas rodas
de conversa, etc.Nosso pequeno Frankenstein
tem suas partes essenciais formadas pela filantropia, as vias do privado e os
serviços públicos numa mesma estrutura que nasce decorrente de uma tragédia.
Não que esse corpo doente tenha, exatamente, desde o seu princípio tomado essa
vertente, porém, que floresceu com o passar dos anos até ter os (des) caminhos
assim construídos e que ainda perambula como corpo decomposto em partes, dado a
doença avançada do partidarismo mesquinho que torna os caminhos nobres da
promoção à saúde em ruas desertas por interesses promíscuos de pessoas que
demonstram, na sua essência que, na verdade, os doentes não estão sob
internação hospitalar, mas, sim, nos diversos corredores e salas onde os papeis
da burocracia e da honestidade questionável sobrepõem-se a coletividade
desassistida e desinformada – ou ignorante mesmo.
Acho que aqui há certa angústia em
continuar uma leitura descontínua e de qualidade mais que questionável.
Entretanto, é necessário retomarmos a ideia perdida no meio do texto do nosso pequeno Frankenstein, que desde os idos
de 64 (será que estou certo?) vem consolidando práticasoutrora elogiáveis e
reconhecidas em todo o estado do Rio Grande do Norte. Sim, noutro tempo, não
muito distante, fomos referência em qualidade no atendimento e na estrutura
oferecida. Onde nos desvirtuamos, então?
Para quem não sabe, Frankenstein era um
monstro na sua aparência, porém, em sua essência trazia o desejo e as práticas
que excediam a própria natureza humana alcançando o almejado pelo próprio
homem: humanizar-se – tivemos práticas efetivas de humanização tão preconizada
pelas necessidades inerentes ao próprio espaço de promoção da saúde ou do seu
restabelecimento.
Temos nós, Hospital Pe. João Maria e
Maternidade Ananília Regina e o Hospital Regional Dr. Mariano Coelho uma
intrínseca relação mutualística que determina a sobrevivência de um e de outro
dentro de relações que possam, efetivamente, promover o bem de todas as suas
partes dicotômicas. Essa construção “monstruosa” aos olhos de alguns,
diferencia-nos das demais estruturas mantidas essencialmente pelo ente público.
Somos o que somos mediante essa construção de pedaços distintos na prática dos
serviços em saúde.
Portanto, admiro sim a esse monstro
construído sob vários pequenos ou grandes pedaços avulsos e distintos dos seus
semelhantes inexistentes. O que precisa ser transformado ou, num paralelo com a
própria ideia em si da natureza do que deva ser praticado por esse nosso
“pequeno monstro (?)”; o que deve ser curado é a maneira como ele vem sendo
conduzido, as práticas administrativas que lhes impõe a falência múltipla de
suas partes que já começam a se decompor. E então, ignorantes de plantão, ou
qualquer outro que tenha uma visão minimizada pela necessidade perversa de
separação para alcançar seus direitos negados – restritos a uma produtividade
não paga – não gosto desta parte, é a mais pobre dentro da pobreza do que
escrevo; senhores expectadores da tragédia anunciada, venho, objetivamente,
dizer-lhes que não é essa relação já descrita aqui como mutualística em onde a
sobrevivência do todo se dá pela integração das partes distintas que nos
constitui – peço desculpas a todos que não se sintam integrantes desse corpo
estruturado de maneira diversa as vontades individuais.
Portanto, não é se federalizando ou
municipalizando ou estadualizando e, acima de tudo, condenandoa Fundação Pe.
João Maria e Maternidade Ananília Regina por todos os males que nos atormenta,
já faz algum tempo, sob os discursos de alguns poucos apedeutas e outros homens
cheios de “boa vontade” e de reconhecido conhecimento, que reconstruiremos
nosso espaço de transformação de vidas. A percepção de que há um mal em si é
diferente do entendimento da apropriação deste mesmo espaço de promoção da
saúde em artifício de promoção de benefícios escusos a nossa natureza enquanto
instituição.
Mais do que percebermos a saúde plena
como uma necessidade humana, é preciso perceber a saúde dos espaços para esta
promoção como elementos que são transgredidos pela natureza humana dos
interesses de grupos e ou sistemas hediondos que se apropriam do bem comum por
suas vaidades de projetos de poder.
A saúde tem sido vista como um caminho a
locupletar os descaminhos – sem qualquer acusação infundada a quem quer que
seja. Entretanto, as estruturas não sobrevivem por si só, elas são
materializadas em suas ações a partir da própria atividade humana que se
constituirá no bem necessário ou, por vezes, no mal que destrói os caminhos da
humanidade.
Enfim, gosto deste Frankenstein. Os
homens e mulheres, sem qualquer generalização, é que adoece suas estruturas
internas quando não veem a própria necessidade do bem comum a todos – sem
qualquer distinção.
É hora, pois, de cada um de nós, que
tenha o mínimo de compromisso com a manutenção da vida, mantermos nosso pequeno Frankenstein em plena atividade
pelos infindos anos que ainda será o tempo de sua existência. Digamos não a
separação de suas partes e sim a nossa participação efetiva nos seus órgãos
constitutivos de gerenciamento.
Precisamos ser atores deste processo e
não meramente expectadores da angústia que assola toda uma população que não se
restringe, tão somente, ao mero espaço da princesa,
porém, a toda uma região. Prefiro ser mártira ser o carrasco que se apropria do
discurso de demonização de uma instituição que ao longo de décadas vem prestando
serviços de qualidade a um mar de pessoas que dentre estas estão os que acendem
a fogueira da destruição e preferem o comodismo do mal ao embate para
construção de dias, verdadeiramente, melhores; senão a todos, ao menos, a
grande maioria das pessoas que veem nos espaços de promoção da saúde
simplesmente o que eles são.
Prefiro a humanidade do personagem de Mary
Shelley – fictício e emblemático nas suas ações de ser construído
por partes distintas; ao mercantilismo dos homens e mulheres que trabalham para
tão somente receberem seus salários de final de mês e serem incapazes de
perceber o quão estão doentes no pensamento imediatista que lhes acalenta os comportamentos
de individualismo, ignorância e passividade.
Frankenstein não é um monstro – nós é
que o vemos assim. Porém, se nos olharmos no espelho talvez vejamos o
verdadeiro monstro, o verdadeiro mal...
Preferirei sempre as reticências a
ideias com ponto final...