sexta-feira, 17 de junho de 2011

ENTREVISTA

VOE NESSA IDEIA

ENTREVISTA DO ALEM NO "MONTE" TOTORÓ



      Depois de uma exaustiva subida, em meio aos jardins de coroas de frade, macambiras e cardeiros, chegamos ao cume do pico do Totoró. Eu, José Jesus, mais conhecido como o Jornalista Jesus, estava acompanhado de outros três indivíduos, que me lembravam Pedro, Tiago e João subindo com Jesus o Monte Tabor para orar. Mas, o meu “Jesus” está mais para o Jesus de Madonna, muito distante do Nazareno.
     O cume repleto de pedras gigantescas criava ambientes e salas, dando a sensação de um templo ao ar livre, um lugar místico. Acomodamo-nos num espaço coberto de rochas, um pouco escuro para favorecer ao fenômeno. Passados alguns minutos, após uma prece, o companheiro que se dizia mais sensível finalmente conseguiu captar vibrações e disse que ela já estava em nossa companhia. Fixamos nossos olhares para uma fenda entre as pedras, quando uma cortina leitosa começou a dar forma a uma imagem. Sob intensa luz, surge Sant'Ana envolta em glória. Fiquei estupefato com a beleza de cabocla de olhos azuis. Ela não era velha como se imagina, mas, uma vovó simpática. Comovido escutei-a dizer, sem abrir a boca:
     - O que desejam meus filhos?
     - Eu estou aqui para lhe fazer algumas perguntas de interesse para nossas vidas.
     Com a fisionomia a irradiar generosidade, ela disse:
     - Seja econômico nas palavras, o tempo no mundo dos santos é sagrado ao trabalho.
     Minha primeira pergunta - ciente do recado e impulsionado pela minha alma colunista -, foi:
     – A senhora vem sempre à festa em sua homenagem que se realiza em julho?   
     Os outros estranharam o teor da pergunta. No entanto, demonstrando grande interesse por minha indagação, a     Santa disse, atenciosa:
     - Não tenha dúvida, embora que, às vezes, seja indiretamente.  As condições nem sempre são favoráveis e, assim sendo, o campo vibratório não permite.
      Percebendo a receptividade que ela demonstrava ao assunto, continuei.   
     - Nesse caso, não seria prudente sua presença para sanar essa dificuldade?
      Com profundo olhar de simpatia, respondeu:
     - Da última vez que tentei uma aproximação, saí muito triste, porque eu sozinha não daria conta de tamanho desajuste. Geralmente eu mando minha equipe socorrista para acudir as vítimas dos devaneios provocados pelo consumo de drogas e estímulo à prostituição.
     - E os organizadores da festa – atrevi-me a perguntar – estariam isentos deste socorro?
      A Santa fitou-me, como a identificar-me as intenções mais íntimas, esclareceu-me:
     - Como meu neto disse: –“ Porque não é boa a árvore a que dá maus frutos, nem má árvore a que dá bons frutos. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu fruto. Porque nem os homens colhem figos dos espinheiros, nem dos abrolhos vindimam uvas. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do mau tesouro tira o mal. Porque, do que está cheio o coração, disso é que fala a boca.” (Lucas, VI: 43-45). Os homens responderão pelo que plantaram, é uma lei natural.
     - Mas, o dinheiro arrecadado – perguntei esboçando um meio sorriso – não vai para a área social, para as atividades da Igreja?
     - A Igreja a que você se refere – ponderou a Santa amavelmente – foi adaptada e criada, conforme as necessidades e o estágio de evolução moral dos homens. As orientações de Jesus se referem à busca de uma conduta moral. A prática do mal não condiz com Seus ensinamentos.
      Hesitei ao tratar de um assunto problemático, mesmo que, no seu olhar já denunciava conhecer minha intenção. Medi as palavras. 
     - Percebo que a sua imagem na Igreja apresenta um semblante diferente?
     - As imagens fazem parte do mundo material de vocês – a radiosa Santa disse, enquanto elevava a mão para coçar próximo ao ombro – o que importa para nós é o direcionamento do pensamento do homem para o amor, o desapego à matéria e a valorização do eu divino de todos.
     Aquela coceirinha me intrigou. Lembrei-me do tempo e mantive o foco na entrevista. Mas, nesse momento a imagem começou a ficar mais translúcida e foi se dissipando. Apressado, tomado pela urgência e desespero de não ter a resposta para a pergunta principal, abri os braços e perguntei:
     - O que faremos para mudar tudo isso... A imagem desapareceu. Mas, uma frase ressoou dentro da nossa caixa craniana, como se alguém falasse para nós.
    - Encontre o amor e encontrarão Deus em vocês.
     Era tarde, o sol aguardava só o percurso de descida do monte para se por definitivamente. A realidade nos esperava. De volta às nossas casas, algo continuava a me incomodar, e aquela coceira?!



7 comentários:

  1. Aíh, joão! ficou muito bom! agora siga o blog do choro.

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  2. Nossa!!! Estou encantada por demais da conta com este blog! Lindo! Lindo! Lindo! Fiquei emocionada com algumas coisinhas em particular, principalmente com o Corejo que aconteceu lá na UFRN - aquele momento foi pra mim tão inquietante, transformador, provocador, emocionante, eu tava chegando na universidade, iniciando no Curso de Letras e, puxa!, aquilo tudo me envolveu muito! Me senti recebida da melhor maneira possível...

    Abraços a todos "avoadores desse avoante que faz voar sonhos e ideias"

    Luma "A Buchudinha"

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  3. Muito bonita a mensagem da Santa , e a paisagem tambem com esse ceu azul imenso e profundo .

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  4. Nossa Senhora da Guia pediu ajuda a um cego para chegar em Acari o ano passado devido as inúmeras faixas espalhadas em toda cidade, o que dificulta descer; este ano não sei se ela desce, agora ano que vem, impossível, ano eleitoral. Beijão

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  5. É meus caros só ela pra salvar esse povo rsrsr.

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  6. Santana do Totoró! Esse povo não sabe o que diz, piedade senhor. A ti peço asas para pousar no avoante como esse povo sonhou. rsrs

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