sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

CURURU COMBATENTE CONTRA A FALÁCIA DAS ELITES NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL

Mesmo reconhecendo a timidez na afirmação de uma identidade, ou de identidades, no Rio Grande do Norte, assim como a falta de produtos culturais marcantes no Estado, isso não significa que elas não existam. O Seridó, e consequentemente o seridoense, constitui uma identidade regional dentro do RN, no entanto:
a territorialização do espaço que hoje é referenciado como Seridó pelos órgãos de planejamento, sofreu modificações ao longo do tempo, recortado que foi pela definição e redefinição dos limites de atuação de suas elites. Cada novo desenho do Seridó seja no mapa, seja no discurso, correspondeu a uma forma de dizibilidade desse poder. (MACÊDO, 2012, p. 221)
ou seja, esse identidade é mais uma construção imagético discursiva das elites locais, refletindo seus anseios e valores. Elites cuja origem genealógica legitimava-os como indivíduos que não partiam de um lugar étnico e social qualquer, eram “brancos” e “fidalgos”. A leitura de cunho historicista que José Bezerra Gomes empreende da gênese do seridoense é sintomática dessa questão:
 E contrastando com o tipo mestiço, morfológico, característico do meio seridoense, de cabeça chata, observa-se a presença ainda hoje viva do elemento branco, de olhos azuis e cabelos brancos, caracterizando o seridoense, enobrecido pela sua origem genealógica, oriundo do antigo marinheiro (dólico-louro), de origem lusa, lembrando loirões e alentejanos, originários de Portugal. (GOMES, 1975, p. 41-42)
A formulação acerca da caracterização étnica e social do seridoense de Bezerra Gomes é um tanto confusa. Ele parece dizer que, embora exista um tipo mestiço característico no Seridó, é o elemento branco, “de olhos azuis e cabelos brancos, enobrecido pela sua origem genealógica dólico-loura lusitana” que representa o seridoense característico.
A aparente contradição nos revela uma intenção de branquear a identidade do curraisnovense/seridoense. Branqueamento esse que constitui um fenômeno sócio-cultural verificado em toda a América e em outras partes do mundo, fruto do passado colonial do continente. 

Fontes consultadas:
GOMES, José Bezerra. Sinopse do município de Currais Novos. Natal: Manimbu, 1975.
MACÊDO, Muirakytan K. de. A Penúltima Versão do Seridó: uma história do regionalismo seridoense. Natal/Campina Grande: EDUFRN/EDUEPB, 2012.
MARCOS, Eidson M. S. De Cabo Verde ao Rio Grande do Norte: identidade étnica e social em Famintos de Luis Romano e Os Brutos de José Bezerra Gomes. Campina Grande: UEPB, 2013.
QUEIROZ, Amarino Oliveira de. As Inscrituras do Verbo: dizibilidades performáticas da palavra poética africana. Recife: UFPE, PGLetras, 2007. Tese de Doutorado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário