terça-feira, 16 de abril de 2013

A GRAMÁTICA DO DESENCANTO


Sem título, óleo s/tela, 1987, autor: João Antonio
Certos substantivos são inalcançáveis, um ideal a ser atingido, assumem um caráter universal, suficientemente abstrato: felicidade, democracia, justiça etc. Suscetíveis as permanentes mudanças mediante ao estágio cultural da sociedade.  É comum tomarmos esses substantivos e querermos torná-los concretos, e afirmamos: a felicidade existe de fato, esse partido não condiz com tal prática. Mas, diante do verbo, o discurso que anuncia a ação e a prática, entre eles, encontramos as intenções, propriedade da personalidade, órgão executivo, detentor do meio pelo qual veiculará e se materializará a ação. Leis, regras sociais, filosofias, doutrinas, livros sagrados conduzem a conduta humana, porém, a individualidade operadora da ação  reside o humano imperfeito com suas contradições. Por outro lado, se os substantivos universais tornassem concretos, estaríamos diante da perfeição, viveríamos de contemplação, pois nada teria de ser feito, aprimorado.
Às vezes nos decepcionamos com encaminhamentos políticos que não cumprem com seus programas e nos tornamos descrentes, condenando a política por não ter cumprido o ideário pregoado, sentimento reforçado por discursos midiáticos com segundas intenções, então, passamos a condenar a política partidária e aqueles que a seguem. De forma preconceituosa os consideramos atrasados e nos encastelamos em posturas pseudoneutras, ficando em cima do muro. Afinal, não somos partidários, não seguimos cartilhas, justificamos e nos vangloriamos como as pessoas mais politicamente corretas? Engano, nossas posturas e atitudes quase sempre estão alinhadas a algum seguimento ideológico. Não existe substantivo, verbo e atitude sem o componente ideológico quando estes se  revestem de intenção propositiva, de intervir numa dada realidade, enquadrando-se de alguma maneira em correntes do pensamento que estruturam a política partidária.
Os mantras partidários, doutrinários, filosóficos são proferidos, mas a execução da ideia em ação concreta, esse caminho, no meio, existe o homem. O que seria do partido do amor se não fosse outro entendimento que nos foi mostrado a mais de 2000 anos, teríamos permanecidos só na prática do amor egoico? Cabe ao indivíduo o esforço de construir uma prática condizente com suas crenças e não culpá-las como se a responsabilidade caísse sobre elas pelo insucesso. Somos os artífices do mundo e respondemos por nossas ações.

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